NOSSAS LENDAS E CAUSOS
RIO NEGRINHO – MISTERIOSO
Histórias de Antigamente – Lendas, Contos e Causos que o povo conta até hoje…
Acesse abaixo a obra em PDF no formato impresso:
Clique Aqui: >>> RIO NEGRINHO MISTERIOSO
Diz o ditado: “Quem conta um conto… Aumenta um ponto!”… E isso é bem possível, principalmente nas histórias passadas de geração para geração. É assim que nascem os causos e mitos, que são grandes heranças da nossa tradição popular.
Reunimos aqui, diversas histórias e estórias de Rio Negrinho, que há muitos anos vêm sendo contadas de pai para filho e se perpetuam no imaginário, muitas vezes, tendo um certo ar de verdade, outras apenas um passatempo divertido, mas sempre relacionadas a fatos e situações, que nos remetem a algum acontecimento que lhes deu origem.
A divulgação desse conteúdo, tem a intenção de contribuir para o conhecimento de muitos fatos de nossa história, transformados em contos e lendas e que fazem parte do folclore rionegrinhense, sendo que todas essas histórias, já foram publicadas em capítulos, pelo Jornal Primeira Hora, em 1999 e 2000 e são do Professor e Historiador Doutor José Kormann. Desejo a todos uma boa leitura e muito conhecimento. Marinho Cristofolini – Jornalista, Professor, Produtor e Pesquisador.
1 – A CAVEIRA e o DENTE DE OURO
No início do século XX, após a entrada dos primeiros colonos na atual Colônia Olsen, em 1904, Romédio Pillati adquiriu diversos lotes coloniais e certo dia, quando seus capangas, como eram chamados os trabalhadores na época, estavam limpando um dos terrenos pela primeira vez, encontraram bem próximo da atual estrada, que vai da Capela São Pedro, passando pelo Monumento ao Colonizador, até a BR-280, uma caveira humana que possuía um dente de ouro.
Ao ser examinada a caveira, tanto pelos trabalhadores que a encontraram, quanto pelos colonos da redondeza, não foi encontrado nenhum sinal de ferimento, como perfuração ou fratura óssea, assim como também não foram encontrados os outros ossos, que faziam parte do esqueleto.
Por algum tempo essa caveira foi jogada ali mesmo, na beira da estrada, até que o fato foi denunciado por carroceiros, às autoridades de São Bento do Sul, que procederam o devido inquérito, sem que nunca ninguém soubesse de nada e nem a própria polícia desvendou o mistério.
Nenhum parente ou amigo de toda a vasta região, reclamou a ausência de um ente querido e nem mesmo qualquer outra pessoa notou algo de estranho ou anormal, no ir e vir das poucas, mas sempre muito amigas e conhecidas personagens da época.
Cerca de meio século mais tarde, em 1957, Roberto Liebl, então dono deste terreno, encontrou uma pistola, toda enferrujada e já sem cabo, de cano curto, e que provavelmente tem alguma ligação com o misterioso fato.
Quem teria sido esse estranho personagem, cuja caveira fora achada? O que teria buscado e o que lhe teria acontecido num lugar tão ermo, tão desabitado naquela época e tão solitário no vasto sertão, pois que não tivera a graça da sepultura, cuja caridade se faz até mesmo aos mais contumazes inimigos?
Mais tarde a caveira foi enviada a São Paulo, para exames mais detalhados, como por exemplo, idade, sexo, causa da morte etc. Entretanto, nunca mais se soube nada a esse respeito e assim, ainda paira nos ares de Rio Negrinho um “quê” de mistério sobre este acontecimento.
2 – O BODE BRANCO QUE FALAVA NA CAVERNA
Antigamente, com menos televisão, menos rádio e menos música gravada, se cantava, contava e tocava muito mais. As pessoas sentiam mais necessidade de relacionar-se, de dialogar e de participar. Se hoje ainda fosse assim, Rio Negrinho, com seus 137 anos, certamente teria desenvolvido inúmeras lendas curiosas a respeito de alguns mistérios, que realmente rondam a história local.
Essas lendas até mesmo já nasceram. Elas existem de boca em boca, nas pessoas mais humildes e mais dadas a crendices. Todos sabem que nas redondezas da cidade de Rio Negrinho existiram diversas cavernas, curiosamente escavadas por mão humana, sem que nada se saiba de concreto a respeito. Algumas já foram destruídas, até diria, inescrupulosamente. Outras ainda existem, como aquelas no sopé do morro da Pousada João de Barro.
OS MENINOS E A CAVERNA – Corria o ano de 1953 e dois meninos à beira da Rua Dom Pio de Freitas, próximo do antigo Bar do João Boelitz, olhavam o enorme pasto que se estendia por toda a encosta, onde hoje se localiza o casario das ruas Dom Pedro II, Padre Celso Michels e adjacências, até o alto da Pousada João de Barro. O menino menor, filho do professor Simão Jurascek, disse ao outro, que atento e curioso o escutava:
– Olhe esse morro aí do outro lado, ele todo oco e por dentro existem enormes salões.
– Como, oco?! Disse o outro espantado.
– Sim, oco. Dentro dele há salões cheios de riquezas. Dizem que um dia um homem entrou no buraco, que fica ali no corte da estrada de ferro e apontou com o dedo para o lugar, em cujo topo está atualmente a Pousada João de Barro.
E continuando ele dizia: O homem entrou por um buraco tão estreito, que mal e mal conseguiu passar deitado, comprimindo e espichando seu corpo. Mas quando ele estava dentro, encontrou pela frente um enorme corredor, todo iluminado, com camas escavadas em pedra de ambos os lados.
O homem caminhou e caminhou, por aquele corredor debaixo da terra, sem nunca ver uma vela, lampião e luz elétrica, mas assim mesmo, tudo estava sempre iluminado e de agradável temperatura. De repente, deu num grande salão, igualmente iluminado, sem ver um foco irradiador dessa luz. Era como se fosse uma luz estática e não uma luz propagada.
A LUTA DO HOMEM COM O BODE BRANCO – Nos lados desse salão, havia enormes pilhas de grandes caixas e sobrepostas, sendo as de cima, tampadas com tábuas grossas. No salão não se encontrava ninguém. O homem curioso, olhava atento e feliz, imaginando que tinha encontrado a fortuna de sua vida, quando escutou, atrás de si, o barulho de cascos que andavam em sua direção. Virou-se rapidamente e notou que vinha um bode branco de tamanho médio, com todo o seu garbo orgulhoso e decidido. Qual, porém, não foi o seu espanto quando o bode abriu a boca e, ao invés de berrar, falou:
– Olha, homem, já que você entrou aqui e que tudo você viu, especialmente as riquezas que aqui se escondem, você agora só tem uma alternativa. Deve lutar comigo. Se me matar, tudo isso aqui será seu, mas se não me matar, eu o matarei. E dizendo isso, correu e avançou sobre ele.
A luta terrível começou. Foi uma luta de morte. Lutaram por horas e horas. Nunca se viu um bode tão corajoso e tão valente. Quando o homem já estava quase morto, lembrou-se de invocar o auxílio Divino, implorando sua grande advogada, a Mãe de Deus e Ela prontamente o atendeu mostrando-lhe a saída e afugentando o bode maldito.
O FOGO DA CAVERNA E OS DIABINHOS PULANDO – Após o menino me contar isso, é claro que saí de lá um tanto curioso e de imaginação avivada. No caminho de volta, sentado na carroça, ao lado de minha mãe sempre bondosa, nada lhe contei, pois o filho do professor viera conosco e conosco voltava, tagarelando com seu ar de superioridade, junto a nós, pobres colonos.
Em casa contei o caso à minha irmã Tereza. Ela, para minha surpresa, me contou que quando ficou alguns dias na casa do tio José, bem juntinho da Oficina Mecânica Rio Negrinho, crianças lhe havia dito que, certo dia, brincando ali de esconde esconde, ouviram sua colega apavorada gritar. As outras correram ao local e assustadas viram um fenômeno espantoso, onde da boca da caverna saía fogo e muitos diabinhos pulavam dentro dele. E Tereza acrescentou: Dizem que ali fica a entrada para o inferno.
ANOS MAIS TARDE... – O tempo correu. Em 1965 iniciei minha atividade de professor (José Kormann) no Colégio São José. Logo nos primeiros dias de aula, os alunos Ralf Ilg, Sérgio Zipperer e Frederico Gassenferd, me falaram das cavernas. Marcamos um dia e entramos em duas delas. Uma das quais já destruídas pelo corte de um barranco da rua Dom Pio de Freitas. A outra no corte da estrada de ferro, ainda permanece. A entrada é realmente apenas um estreito buraco. Para entrar, uma pessoa deve encolher o corpo e arrastar-se.
O INTERIOR DA CAVERNA – Dentro da caverna há possibilidade de andar normalmente. As paredes estão cheias de inscrições de pessoas que já entraram lá e quiseram deixar seus nomes, porém, destruindo em parte a originalidade e a possibilidade de estudos mais acurados. Diz, acertadamente um ditado latino: “Nomina stultoram leguntur ubique locorum” ou “O nome dos bobos é lido em toda parte”.
Contudo, o mistério continua: Quem, quando e por que, teria construído essas cavernas, escavando penosamente e com tal perícia esse esconderijo? É possível que haja algumas entradas interrompidas por desmoronamentos e que algumas das cavernas tenham continuidade após o fechamento, o que possibilitaria ainda mais um estudo científico do caso.
3 – A MINA DAS PEDRAS REDONDAS EM RIO DO SALTO
Quem visitar os museus da região poderá encontrar expostas, pedras quase que perfeitamente redondas, que foram recolhidas na localidade de Rio do Salto, em Rio Negrinho. É realmente uma curiosidade maravilhosa. Parecem pedras fabricadas por inexplicável arte humana, embora não passem de um interessante capricho da natureza. Numa barroca de difícil acesso, em Rio do Salto, existe a mina das pedras redondas.
Aos defensores intransigentes de Erich Von Däniken, um controverso escritor suíço, conhecido por criar diversas teorias sobre a suposta influência extraterrestre na cultura humana, desde os tempos pré-históricos e autor de diversas obras polêmicas, como “Eram os Deuses Astronautas?” e “De Volta às Estrelas”, gosto de dizer que é uma pena ele não ter conhecido Rio Negrinho com suas cavernas misteriosas, suas pedras redondas (aliás, ele comenta similares andinos) a curiosa casa de pedra, de onde originou-se o nome do rio e da localidade Rio Casa de Pedra, em Rio Negrinho e assim tantas outras maravilhas nesta terra insólita, como a lenda do cavalinho de ouro.
É bem provável que um mirabolante criador de barrotas teorias científicas, diria que em Rio Negrinho, viveram em antigas eras, gigantes e anões, que poderiam ter guerreado mutuamente, e por vezes, vivido também amigavelmente e colaborando entre si, até se extinguirem por completo, para darem lugar a seus sucedâneos.
Ele certamente encontraria as provas mais fáceis ao defender sua tese, na credibilidade intelectual criada à base de imagens e sons e, por consequência, raciocínio fácil e sempre dependente deste sonoro e pictóreo, onde as cavernas seriam a residência dos anões e as enormes grutas a residência dos gigantes. A casa de pedra, o sinal incontestável do surgimento da terceira categoria de humanóides, a nossa.
Ainda se ele quisesse, poderia nos trazer o colorido da chegada de discos voadores, advindos de outras galáxias. Os campos de pouso dessas naves seriam facilmente encontrados. E nessa história dos extraterrestres, ele colocaria o mistério da caveira com um dente de ouro, cujo enigma nunca foi desvendado.
As enormes pedras redondas, nesta fantástica história pseudocientífica, poderiam virar, desde peças nas mãos dos filhos dos gigantes, até balas de armas de guerra contra invasores ou monstros que viviam no início da era antropozóica. O mesmo se diria das pequenas pedras redondas que se encontram na mesma localidade, apenas relacionando-as com os anões. Teríamos assim, um Rio Negrinho de Däniken merecedor de livros, filmes e novelas.
4 – O CEMITÉRIO DE ÍNDIOS NO SERRO AZUL
Esse cemitério semi destruído é outro mistério rionegrinhense, que passamos a comentar a partir de pesquisas bibliográficas e pesquisas de campo efetuadas. Já é de conhecimento de todos, que em nossa região, existe o cemitério de índios na cafurna de Serro Azul e muitos por curiosidade, ou até por prazer sádico, já foram lá e violaram o leito de morte, onde alguns de nossos irmãos dormiam seu sono no aguardo da ressurreição. Dizem que primeiro foram porcos que focinharam o terreno calcinado da grupa e acharam os restos mortais, deixando caveiras expostas e ossos esparramados.
Depois disso vieram os indivíduos de toda laia: Os pseudocientistas, os curiosos de sempre, e até mesmo os leais seguidores da leva de suínos, dos quais se mostraram condignos discípulos. Hoje, ainda lá se encontram ossos humanos. Muitos desses ossos às sacadas, foram levados, não se sabe para onde e para quê. Outros foram jogados nas capoeiras e algumas caveiras serviam de bolas, a chutes de pretendidos craques, ou então, de espantalhos para colegas de trabalho no caminho da roça.
Mas este cemitério é mais um dos tantos mistérios que ronda a história local. É que os índios brasileiros enterravam seus mortos em potes de barro, chamados de “igaçaba”. Por todo o território nacional eram encontrados, como ainda hoje se encontram, as célebres “igaçabas”, em que o morto, acompanhado de suas armas, ficava em posição fetal, simbolizando o nascer desta vida para a outra além túmulo. Aliás, em quase todas a culturas da idade da pedra, assim se procedia.
Uma das poucas exceções conhecidas era a do próprio índio Xokleng, habitante do planalto norte catarinense à época da colonização, que costumava queimar os mortos, juntamente com seus pertences. A cinza era enterrada em sepultura especialmente preparada e sobre ela construíam um rancho. Apenas as crianças que morriam em tenra idade, eram sepultadas, sem passar pelo processo de cremação.
Contudo, no cemitério localizado na gruta de Serro Azul, os mortos estavam em posição horizontal e retamente estendidos, contradizendo as normas gerais dos povos pré cabralinos, nossos patrícios brasileiros e, por igual, os costumes do índio Xokleng, então senhor absoluto de toda região.
De quem seriam esses corpos, que segundo denota, foram sepultados a um tempo que não deve cronologicamente, ir além do domínio Xokleng? É de supor-se um sepultamento historicamente recente, se não como é que os porcos tentariam desenterrá-los sem que neles ainda existisse, pelo menos o desprendimento de gases que os atraísse pelo faro? Os mesmos gases podem explicar as luzes e certos estrondos que, segundo diversas pessoas, são ali esporadicamente observados.
Sabe-se que o planalto sul brasileiro foi povoados por habitantes humanos hexógenos, a partir de 5.500 anos a.C. e tudo indica que os europeus colonizadores, vieram interromper um fluxo de povoadores indígenas, de tradição Tupi Guarani, que estavam a demandar, em nossa região, o litoral.
Sabe-se também houve um longo conflito e de grandes proporções, entre duas nações indígenas, exatamente no planalto catarinense e sul paranaense. Esse conflito foi interrompido pela chegada dos primeiros europeus às nossas plagas e permitiu que o Xokleng permanecesse o senhor da rica floresta araucária, mesmo que por curto lapso de tempo.
Foi a partir do início do século 18, no chamado setecentismo, que as primeiras levas de sertanistas ousados, invadiram o planalto pela estrada da mata, então simples picadão, hoje a BR-116. Do norte, do sul, do leste e do oeste, o cerco foi sendo fechado. O Xokleng foi assim empurrado para o fundo do sertão, que já se tornava a cada dia menor.
Quando faltou comida, o Xokleng a retirou da roça e das fazendas dos colonos e daí os bugreiros, especialmente contratados, entraram em ação e descreveram, à base de facão, manejado durante o sono dos índios, a negra história da matança de um povo, sem que lhes desse uma opção.
E o mistério continua. De quem seriam os esqueletos assim enterrados de forma contrária às origens indígenas conhecidas? Seriam de um povo ameríndio extinto pelo Xokleng? O fato é que estes esqueletos já estavam lá antes da chegada dos primeiros civilizados àquela localidade. Mas como o lugar foi terrivelmente depredado, será muito difícil que qualquer uma das ciências auxiliares da História, chegue a uma conclusão lógica e inderrubável.
5 – ANTONIO FERREIRA DE LIMA – O DESBRAVADOR
Nascido em Portugal, residente em São José dos Pinhais, radicou-se na localidade de Rio do Salto, em Rio Negrinho, donde em 1874, desceu a Serra do Mar pela simples picada aberta em plena mata virgem, com suas tropas de mulas tangidas por peritos peões, para trazer serra acima, a leva dos imigrantes alemães e poloneses que se fixaram em São Bento do Sul.
Ele é Antonio Ferreira de Lima. Talvez, o primeiro civilizado a estabelecer-se em solo rio-negrinhense. Isso, nos primeiros lustros da segunda metade do século 19. Até hoje, nem Rio Negrinho e nem São Bento do Sul, lhe reconheceram o mérito de desbravador e medidor das primeiras glebas.
Escrever e publicar é veicular ideias. Ideias são sempre fator imprescindível para toda e qualquer atividade humana. Além de registrar para o sempre, a ideia escrita passa a ser lida no presente, comentada, criticada, seguida, contestada e assim, no embate e debate de raciocínio, ela cresce, se purifica e produz resultados no porvir. É o que acontece. Escrevi sobre o misterioso cemitério dos índios na gruta de Serro Azul e vejam só o que aconteceu, surgindo um novo dado.
Visando aprofundar minhas pesquisas sobre a trágica morte de Antonio Ferreira de Lima, conversei com seus netos, Adolfo Ferreira de Lima, Roberto Ferreira de Lima e Domingos Ferreira de Lima, embora já há tempos, vinha mantendo contatos com outros descendentes diretos do mesmo personagem. E vejam só como a história do misterioso cemitério dos bugres parece ganhar clareza e sentido, ao desmistificar-se inconsuetudinariedade do enterro destes corpos.
Apesar de ainda ser mistério a data de chegada dos primeiros homens civilizados a Rio Negrinho, sabe-se que eles aqui se estabeleceram antes do dia 22 de janeiro de 1974, data em que fixaram residência os segundos imigrantes em São Bento do Sul, cujo cortejo serra acima, foi guiado e transportado por moradores de Rio Negrinho no lombo de animálias.
Devem, também ter sido estes primeiros moradores de Rio Negrinho, que pela primeira vez, desceram com sua tropas do planalto à planície, passando então na simples picada, nos idos de 1865 (01/06/1865), atualmente conhecida como Estrada Dona Francisca.
Antonio Ferreira de Lima estabeleceu-se aqui em Rio Negrinho, na localidade de Rio do Salto. Ele trouxe consigo, além dos filhos (Manuel, Joaquim, Roberto, Serapião, Possidônio, Maria, França, Lucinda e Tereza), muitos amigos e parentes, tais como: Simões, Carvalho, Alves, Tavares e outros mais.
Antonio Ferreira de Lima, além de ousado sertanista, era também agrimensor. Foi ele que mediu e demarcou os primeiros lotes coloniais de Rio Negrinho. Isso valeu-lhe o ódio dos índios Xokleng, que se consideravam os senhores destas terras.
Um dia abrindo picadas, medindo propriedades e demarcando divisas, acompanhado dos filhos, amigos e capangas, foi súbita e mortalmente ferido. Uma flecha atirada por um Xokleng oculto na mata, varou-lhe o peito de lado a lado. Caiu moribundo pedindo aos filhos, amigos e capangas que o abandonassem e fugissem. Eles atenderam e se foram, sem que mais ninguém deles fosse ferido. O ódio do Xokleng era somente contra aquele que demarcava as terras aos outros, que lhes reclamavam como suas.
Mais tarde os fugitivos voltaram ao local do sinistro e encontraram-no morto e retalhado a golpes de facão. Sepultaram seus restos mortais à sombra de grande figueira silvestre, sob enorme pedra bruta, na localidade de Rio Corrêa, município de Corupá, donde no centenário de sua morte, foram transportados a Rio Negrinho, onde jazem no Cemitério Municipal Parque da Colina.
Seus filhos valentes, amigos leais, peões dedicados e assim outros, seja por desejo de vingança ou temor selvagem, organizaram expedição perseguidora. Pegaram os índios de surpresa, para lá de Volta Grande, em Rio Negrinho e mataram todos. E, por entre os apetrechos do selvagem, encontraram a pistola que Antonio Ferreira de Lima usava na cintura, quando recebeu a mortal flechada.
Deve ser este o mistério do cemitério de índios, na cafurna de Serro Azul, pois teria sido os civilizados a enterrar os índios, porém na forma habitual, diferente da maneira indígena até então conhecida. Mas ainda fica o mistério: Quando realmente os “Ferreira de Lima”, e todos os seus, teriam se estabelecido nesta terra?
6 – A CURIOSA LENDA DA BRUXA E OS BANDIDOS
Deixando um pouco de lado os fatos mais carentes de um estudo aprofundado, agora vamos descrever uma lenda curiosa, que já faz parte de nossa cultura. Essa linda lenda, poderá com mais pitadas de criatividade, ser um elemento importante de literatura infantil. Ela foi contada quando eu era ainda criança, pelo sempre vivaldino e sapeca filho do professor Simão Jurascek, cujo nome era Antonio.
Dizem que antigamente havia na região um grupo de bandidos malvados. Eles assaltavam, matavam, roubavam e praticavam toda a sorte de malvadezas que nem se podia imaginar. O problema era terrível. O povo se reunia e lutava.
Muitos dos primeiros moradores morreram, mas os bandidos continuavam sempre atacando em igual número de pessoas. Se um deles fosse morto em tiroteio ou mesmo em briga de faca, seus comparsas o pegavam, levando-o em retirada, para já logo outro dia ele estar vivo e participando de novas arruaças.
O povo desanimado comentava que aquilo devia ser o demônio em pessoa, com todo seu exército. Ninguém mais queria lutar contra eles. E o pior é que simplesmente deixá-los livres, praticando seus atos criminosos, também já não dava mais de aguentar.
Falaram com os grandes políticos da época e conseguiram que um grupo de soldados da polícia da capital, viesse aqui e lutasse contra esses endemoniados assassinos. Entre os policiais, havia peritos degoladores. Eles pretendiam vasculhar a mata inteira e pegar, um por um, os malandros e cortar-lhes a cabeça, com tanta rapidez, que nem mesmo um gritinho saísse de sua boca maldita. Assim todos seriam pegos, um de cada vez, para que os outros não percebessem.
E realmente um dia os militares entraram na mata, pegaram os malvados e cortaram a cabeça de todos. Amontoaram-nas abaixo de um grande pinheiro e os corpos, de cabeça decepada, empilharam-nos rente a uma enorme imbuia. Cortaram as orelhas e as levaram para a cidade a fim de provar a todos, sua vitória sobre os bandidos. Outro dia, quem quisesse acompanhá-los, veria o enterro dos larápios em vala comum.
À noite, quando todos reunidos festejavam a vitória, estourou subitamente, a notícia de que os bandidos atacavam a vila. Eram os mesmos bandidos. Alguns dos moradores que ficaram escondidos, os viram, e perceberam que os bandidos estavam sem as orelhas, mas continuavam matando as pessoas que pegassem pelo caminho, tocando fogo nas casas e roubando tudo aquilo que valia a pena carregar.
Não é necessário dizer que a confusão se estabeleceu por todo o povoado. Mas como é que os bandidos estavam vivos, se a polícia havia cortado as suas cabeças e como prova trouxera as orelhas? E a prova maior de que eram os mesmos bandidos, é que eles vieram ao ataque sem as orelhas?
Qual, porém, não foi a surpresa, quando um dos auxiliares da delegacia veio e contou que os ladrões, ao assaltarem a cadeia, haviam roubado de lá, a balaiada de orelhas, que estava no gabinete do delegado. E foi nesse momento que algumas pessoas, quase mortas de susto, correram à sala de reuniões e, após beberem um pouco de água, falaram que haviam pego um dos assaltantes e, com afiado facão, deceparam-lhe a cabeça, jogando-a à beira da estrada e o corpo atiraram-no do outro lado da mesma rua, mas, pouco depois, passando por lá, o viram sair correndo com a cabeça e as orelhas no devido lugar. Alguns contaram que pouco antes viram uma velha mexendo no cadáver, tendo uma lata dependurada em seu braço. Conversa vai e conversa vem, o fato é que ninguém mais conseguia dormir. Mil ideias, mil pensamentos e raciocínios perpassavam as mentes.
Um dia após, tendo muito conferenciado e planejado, os policiais partiram em nova expedição floresta adentro. E, mais uma vez, encontraram os bandidos e os degolaram um a um. Outra vez empilharam as cabeças junto ao grande pinheiro e os corpos ao lado da enorme imbuia. Mas, desta vez, se esconderam, em lugares bem seguros, para observar o que iria acontecer.
Foi para lá de meia noite, quando apareceu a velhinha com a estranha lata pendurada no braço. Ela ajeitou os cadáveres, colocou a cabeça decepada junto ao pescoço de cada um, pegou uma porção de graxa que havia na lata, untou as partes no corte e juntou-as gritando: “Levante-se Minguadinho”, e prontamente o bandido pulou. Assim ela fez, de um em um, até que todos estivessem vivos. Depois ela entrou no mato, seguida por um dos policiais para descobrir sua moradia, enquanto os outros soldados se deram ao trabalho de matar todos os bandidos novamente.
Quando a terceira matança estava feita, voltou o policial que havia seguido a velha e guiou os outros até lá. Ela morava na caverna, que fica lá no corte da estrada de ferro. Entraram e, num imenso salão iluminado, cheio de riquezas, pegaram a bruxa. Cortaram-lhe a cabeça e, para a experiência, untaram o corte, juntaram as partes e o chefe dos policiais gritou: “Levante Minguadinha”, e ela prontamente levantou e começou a correr, querendo fugir, mas um dos policiais, de um só golpe, fez-lhe rolar a cabeça pelo chão.
Foi aí que aconteceu um caso inesperado. Entre os soldados havia um que era muito curioso. Ele imediatamente insistiu em querer passar pela morte, só para sentir como é. O chefe dele mandou então, que lhe cortassem a cabeça, o que foi feito. Pegaram a lata de graxa misteriosa e constataram que o ingrediente estava no fim. Muito nervosos rasparam o resto, engraxaram e rapidamente juntaram as partes e gritaram: “Levante Minguadinho”, e todo atrapalhado, ele se levantou.
Outro dia o povo quase morreu de rir, quando o pequeno exército marchou triunfante, vila adentro, e o último soldado, querendo olhar para a frente, marchava de ré.
É que na pressa de conseguirem mais um pouquinho de graxa, haviam lhe posto a cabeça em posição invertida. Agora, ao invés de olhar para a frente, ele olhava para trás. E assim, essa é mais uma lenda que envolve nossas misteriosas cavernas.
7 – A CASA DE ALVENARIA E O TESOURO DO PSCHEIDT
Certo dia o Sr. Paulo Pscheidt, filho de Carlos Pscheidt, cavou a beira da estrada que vai da BR-280 à capela de São Pedro e passa pelo Monumento ao Colonizador, logo depois ele iniciou a construção de uma casa de alvenaria, grande novidade na época. Desta forma, deu-se motivo a vasto comentário de que ele havia encontrado um tesouro de jesuítas. Muito mais tarde, ele disse ao meu irmão Alfredo, o que realmente havia acontecido:
– “Tirei uma colmeia daquelas que fazem morada nos barrancos e todo o povo comentou que eu tirei um tesouro dos jesuítas e transformei em dinheiro, como se eu não o tivesse ganho com o labor de meus próprios braços”. Entretanto, até hoje ainda tem quem duvide dessa versão.
8 – JANGO BINO LUTA COM A GALINHA DE FOGO
Um pouco mais acima do lugar, onde a colmeia de abelhas fora tirada, bem na curva da estrada e rente ao barranco da mesma, havia um enorme cepo de imbuia com pasto ao redor.
Ali, muitos viam luzes à noite. O mesmo Antonio Jurascek, filho do professor, contou que um dia, o valente caboclo Jango Bino, por ali passando bêbado, viu uma galinha de fogo chocando ovos de ouro. Dizia ele, que Jango Bino arrancou do seu grande facão, que sempre portava consigo, e desferiu violento golpe na galinha, que imediatamente sumiu por entre uma grande faisqueira. O mesmo acontecendo com os ovos de ouro.
Nem é preciso dizer que Jango Bino correu, de um só fôlego, até o alto da capela, onde quase morto, entrou na bodega de Jorge Mühlbauer, e sem conseguir falar, pediu mais um trago de pinga, assustando os colonos que ali faziam seu encontro noturno.
9 – A PANELA DE OURO DA VILA NOVA
Dizem que lá num determinado lugar, bem junto de uma palmeira, onde era o reflorestamento do Sr. Dranka, havia um buraco. Muitos comentavam que neste, escondia-se um tesouro numa panela de ouro, que nas noites de luar emitia luzes. E se alguém dissesse que isso nada mais era do que um buraco de tatu, passava-se por louco, e estava comprando uma briga mesmo que fosse com um amigo fiel.
Assim, a família do Sr. Emilio Pilar, que era muito pobre, ao ouvir tais comentários, foi também ver o tal esconderijo do sonhado e apetecido tesouro, defendido por almas penadas, que espantavam as pessoas que por lá passassem.
Logo, alguns dias atrás, com pretexto de arrumar trabalho para sua numerosa família de dez filhos, Emilio Pilar, mudou-se para Curitiba, onde sua esposa foi sorteada na compra de uma cesta de natal, ganhando um carro, a grande novidade e causadora de muita inveja, naqueles idos de 1950.
Aproveitando as festas natalinas, o Sr. Emilio Pilar, veio de carro a Rio Negrinho, para visitar seu velho amigo e parente, João Tavares. Vendo isso, os mais desconfiados correram para o local da palmeira, em cujo socavão se esconderia o tesouro misterioso, e acharam, nas imediações, um fragmento de panela de barro. Era só o que faltava para completar a “estória”. Nenhuma explicação aplacava a desconfiança dos crédulos. Afinal, cada um crê naquilo que mais lhe apraz e mais lhe satisfaz a necessidade de relacionar-se socialmente. (Contada pela Cristiane Aparecida Schroeder)
10 – A CRIATURA NEGRA DE OLHOS VERMELHOS
Era uma noite de luar, em que os poucos moradores que residiam à beira do rio Serrinha, se reuniam quase que todas as noites, quando à meia noite ouviu-se um barulho estranho, que chegou aterrorizar. Olharam e viram uma estranha criatura, que ali passava por um estreito caminho. Mas o bicho era grande, negro e com olhos vermelhos. Este animal destruía tudo o que estava em sua frente. Destruiu todos os galinheiros, espalhando a criação morta e depois de apavorar a todos, a estranha criatura se foi.
Na noite seguinte, todos os moradores ficaram trancados em suas casas, à espera do monstro. Começou uma violenta tempestade, quando entre os relâmpagos surgiu aquele terrível animal. Ninguém sabia de onde viera, mas se notava que o bicho tinha uma grande vontade de destruir e aniquilar tudo à sua volta, pois matava todos os animais que encontrava pela frente. Tiros de espingardas foram disparados, mas nada lhe atingiu e assim como repentinamente apareceu, misteriosamente desapareceu.
Um dia, os moradores que nunca encontraram um rasto desse misterioso animal, reforçaram as portas de um velho galpão, e como isca, prenderam um bezerro. A noite chegou e o animal entrou no galpão para matar o bezerro. Nisso, fecharam as portas e atearam fogo. Tudo parecia acabado, porém, entre as cinzas encontraram o bezerro calcinado e nada da misteriosa criatura que novamente escapou, mas nunca mais voltou. (Contado pelo Luiz Gilmar Peschel)
FINALIZANDO: Dizem que o brasileiro não tem folclore, pelo fato do Brasil ser um país novo. Mas, só de lobisomem é possível criar uma literatura completa. Talvez um dia alguém o faça. Por: Dr. José Kormann – Professor e Historiador