HISTÓRIA -DA —MÓVEIS -CIMO –EM -RIO NEGRINHO
UMA HOMENAGEM AOS MILHARES DE TRABALHADORES, QUE CONSTRUÍRAM ESSA MARCA, POR 70 ANOS…
Pesquisador, Editor e Produtor:
MARINHO PAULO CRISTOFOLINI – Jornalista e Escritor
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Esta publicação, que mostra os 70 anos de atividades da Móveis Cimo em Rio Negrinho, além de resgatar grande parte da história da nossa cidade, tem também a intenção de fazer uma justa homenagem, aos milhares de trabalhadores que passaram pela CIMO, deixando sua contribuição através de seu trabalho, de sua dedicação, de sua lealdade e acima de tudo, deixando seu exemplo de cidadão do bem. Naquele tempo, grande parte dos trabalhadores da CIMO, entraram em seu primeiro emprego aos 12 anos de idade, e muitos deles, lá ficaram por 20, 30, 50 anos e até mais, comprovando que nossa gente tem uma vocação para o trabalho, basta existirem as oportunidades. O conteúdo da história da Móveis Cimo é fruto de uma grande pesquisa, feita pelo historiador rio-negrinhense, Professor e Doutor José Kormann, e faz parte do seu livro “História de Rio Negrinho, publicado em 2012. Vamos à história:
O COMEÇO DA MÓVEIS CIMO
Em 1879 nasciam em São Bento do Sul dois amigos, Jorge Zipperer (24 de Abril) e Willy Jung (30 de Maio). Os dois eram descendentes de imigrantes vindos da Alemanha e tendo praticamente a mesma idade, cresceram juntos e partilharam tanto suas vidas, que fizeram história e nela deixaram seus nomes unidos para sempre.
Jorge Zipperer viveu temporadas de sua vida entre caboclos para que pudesse aprender a língua portuguesa, o idioma de sua nova Pátria, foi também madeireiro, empregado em serraria, balconista em lojas, coletor federal e professor no bairro Serra Alta, em São Bento do Sul.
Em 1912, Jorge Zipperer associou-se a Willy Jung e os dois fundaram a firma Comercial Jung e Cia., no encontro das atuais Rua Jorge Lacerda e Rua Visconde de Taunay, em São Bento do Sul.
A loja prosperou, ganharam muito dinheiro e resolveram investi-lo, pois dinheiro traz dinheiro ou desfaz riquezas: Ele possui força centrífuga e força centrípeta, depende do uso que dele se faz.
Sendo assim, investiram na localidade de Rio do Salto, em Rio Negrinho, comprando um terreno de 111 alqueires, pertencente a Serapião Ferreira de Lima, que era filho de Antônio Ferreira de Lima, morto pelos índios em 1883. E, neste terreno construíram uma moderníssima serraria tendo anexa uma fábrica de caixas de madeira para embalagens.
Todo empreendimento era movido por força à vapor e possuíam ali também um gerador, com o qual iluminaram toda vila de operários, ruas, loja que atendia aos empregados e, é claro, todos os galpões por onde se processava a produção fabril. Era realmente algo incomum para aqueles tempos.
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Havia naquele período, pré Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e no desenrolar da Guerra Camponesa do Contestado (1912-1916), um grande comércio de madeira serrada para a Europa e para os Estados Unidos. As caixas iam para a Argentina, via Rio de Janeiro, e outro tanto delas era vendida em São Paulo.
Surgiu aí, um imprevisto negativo, que acabou por transformar-se em fator positivo, pois a madeira de Rio do Salto não era de boa qualidade. Foi por isso que se obrigaram a procurar, em outros lugares, madeira de melhor qualidade. As dificuldades enfrentadas são sempre benefícios que trazem vantagens. Os pinheiros, pinus araucarius, as imbuias e cedros, dependendo do lugar, não apresentam as mesmas qualidades, especialmente a imbuia. Foi o que se deu com a madeira extraída em Rio do Salto.
QUALIDADE DA MADEIRA
Em setembro de 1915, Jorge Zipperer e Willy Jung, venderam sua empresa comercial que possuíam em São Bento do Sul ao irmão de Jorge, Carlos Zipperer, e investiram o dinheiro na localidade de Lageado, município de Rio Negro-PR, construindo no local uma segunda serraria à vapor, que chamaram de Engenho Novo e que já em 1916 entrou em funcionamento.
Em 1926 mudaram essa serraria, o Engenho Novo, que possuía dois quadros, duas serras que funcionavam ao mesmo tempo, mas independentes, para a localidade de Bituva, município de Mafra, junto ao rio Preto, onde havia grande quantidade de madeira de boa qualidade, mas a extração de madeira em Lageado não foi paralisada e até uma nova serraria foi ali posta a funcionar, mais tarde.
O EMPREENDIMENTO DO CENTRO DA CIDADE
No atual centro de Rio Negrinho já passavam a Estrada Dona Francisca, desde 1880, e a Estrada de Ferro São Paulo – Rio Negrinho, ramal São Francisco do Sul, desde 1913.
Os empreendimentos dos amigos Jorge Zipperer e Willy Jung ficavam um ao sul e o outro ao norte destas duas importantes vias que só em Rio Negrinho se cruzavam, desde Joinville até Mafra, e isso na época, era um fenômeno de particular importância econômica.
Para que houvesse um progresso bom e contínuo, havia necessidade, “sine qua non”, de interligar-se a Serraria e Fábrica de Caixas de Rio do Salto ao Engenho Novo em Lageado no Paraná, para que os dois empreendimentos ficassem próximos do ponto do encruzo, entre a ferrovia e a rodovia, e também próximo da Estação Ferroviária de Rio Negrinho, que já existia naquele tempo.
RODOVIA RIO DO SALTO-LAGEADO
Foi então construída uma rodovia de Rio do Salto até Lageado no Paraná. Esta estrada passou a chamar-se de Irani, uma vez que a região entre a margem direita do Rio Negrinho e a margem esquerda do Rio Negro chamava-se Irani.
Um trecho dessa rodovia chama-se, hoje, Rua Pedro Simões de Oliveira e a outra, da BR-280 até a ponte sobre o Rio Serrinha, chama-se Rua Alfredo Greipel, e da ponte sobre o Rio Serrinha até a ponte sobre o Rio Negro, Rua Amandus Olsen.
Esta rodovia trouxe muito progresso para Rio Negrinho. Ela serviu de importante escoadouro de produtos agropastoris, além de madeira e erva-mate. Foi nela que Jorge Zipperer mostrou todo seu empenho e toda sua capacidade de liderança, mesmo junto ao governo do Estado do Paraná, numa época em que todas as animosidades entre Santa Catarina e o Paraná ainda estavam muito vivas, em função da Guerra Camponesa do Contestado, que aconteceu de 1912 a 1916, e foi terrivelmente cruel, deixando profundas mágoas entre Santa Catarina e Paraná.
A FÁBRICA NO CENTRO
Em 24 de junho de 1918, a Jung e Cia. comprou de José Brey, 625.000 m2 de terras, com o objetivo de centralizar ali suas atividades, próximo à estação ferroviária e também da Estrada Dona Francisca. Para dar início, foram transferidas para lá, a serraria e a fábrica que estavam em Rio do Salto, para mais tarde, constituir-se a celebérrima Móveis Cimo S/A., local hoje ainda assinalado pela chaminé que dela sobrou no centro da cidade de Rio Negrinho.
FALECIMENTO DE WILLY JUNG
Os negócios iam bem, mas nem tudo corria num mar de rosas. Em 16 de janeiro de 1919, veio a falecer, inesperadamente, o importante sócio de Jorge Zipperer, Willy Jung. Ele morreu de gripe espanhola, cujo surto fazia seu estrago por toda redondeza.
Segundo Jorge Zipperer, junto ao túmulo de Willy Jung, não choravam somente sua esposa e seus filhos, mas chorava também toda uma comunidade, por aquele grande líder que tanto ainda prometia, mas que já aos 40 anos foi colhido para a eternidade.
NOVO SÓCIO
Ainda em 1919, André Ehrl acabou por integrar-se à Companhia. Era ele, segundo as palavras de Jorge Zipperer “… de profissão sapateiro, desde 1915 negociante em São Bento, era um homem de alta moralidade, muito trabalhador e de grande atividade, além de ótimo companheiro de luta pela existência e progresso da firma, casado com nossa prima Bárbara, nascida Pscheidt…” (manuscritos de Jorge Zipperer). Foi assim constituída a razão social André Ehrl e Cia.
Em 25 de setembro de 1919 foi inaugurado o estabelecimento empresarial no centro de Rio Negrinho. A cidade, daquele tempo, foi iluminada eletricamente por obra e graça da firma André Ehrl e Cia.
UM ANO ESPECIAL – 1921
Em 1921, três coisas importantes aconteceram para alavancarem os negócios:
- Junto à serraria, no centro de Rio Negrinho, começou a funcionar a fábrica de caixas e de cadeiras;
- Veio de São Paulo o irmão de Jorge, Martim Zipperer, e com ele vieram vários técnicos, com os quais já trabalhava lá em São Paulo e estes técnicos deram novo impulso na fabricação de produtos mais refinados;
- Em dezembro desse ano, aconteceu o primeiro pedido de vulto, de poltronas de cinema para o Cine Seleta de Santos, em São Paulo.
BATALHÃO DE JOINVILLE
Em 1922, foi construído em Joinville o quartel do 13º Batalhão de Caçadores e a firma André Ehrl e Cia. venceu a concorrência, fornecendo todo o madeirame para esta obra militar, que tão auspiciosamente foi recebida nesta região, por ocasião do centenário da Independência do Brasil e que certamente beneficiou toda região nordeste de Santa Catarina.
EQUIPAMENTOS EUROPEUS
Em 1929, Martim Zipperer foi à Europa a fim de comprar uma máquina descascadeira ou laminadora, como mais apropriadamente ela é chamada, uma vez que de toras produz lâminas que, coladas de maneira correta, produzem o madeirame chamado de compensado. A máquina foi comprada da firma Aron Bauer e Co., e como as coisas eram feitas sem delongas, já em 17 de janeiro de 1931, a fábrica de compensados entrava em pleno funcionamento. Foi o início da grande produção de poltronas de cinema ,que tanto dignificaram a Móveis Cimo.
LOJA EM SÃO PAULO
Em 1932 foi inaugurada na Praça da Sé, em São Paulo, a loja da empresa. Era o início da busca de algo maior que já se fazia necessário. Na vida é assim mesmo: Ou se cresce ou se morre, parado é que não se fica. Um professor sempre dizia a seus alunos, ou se vai com Deus para frente, ou o diabo empurra para trás. Mas antes disso, mais algumas contrariedades haveriam de acontecer.
No dia 11 de fevereiro de 1924 o sócio André Ehrl pediu demissão da sociedade e realmente retirou-se com a parte do capital que lhe cabia. Alegou que estava cansado de tanto trabalhar, construir, comprar e vender. Era esta uma empresa que crescia sem parar, mas que também exigia completa e total dedicação e isso já não lhe convinha mais. Para Jorge Zipperer isso foi uma perda, mas não se deteve em lamentações. Em poucos dias apareceu um novo sócio, na pessoa de Nicolau Jacob. A nova razão social constitui-se no mesmo dia do desligamento de André Ehrl, ou seja em 11/02/1924, passando a girar como nome de Nicolau Jacob e Cia.
PROBLEMAS À VISTA
A nova sociedade não foi feliz. Nicolau Jacob era um bom trabalhador, mas de gênio difícil e muito encrenqueiro. Jorge Zipperer tentou intermediar muitos problemas de relações humanas, mas logo percebeu que se continuasse assim, o seu serviço viraria apenas o de apagador de incêndios, ou seja de encrencas, e propôs-lhe a saída da organização e a venda de suas ações, o que foi feito.
Constituiu-se assim, em 11 de fevereiro de 1925, a razão social sob a denominação de Jorge Zipperer e Companhia, exatamente por um ano, apenas, Nicolau Jacob foi o sócio de Jorge.
Foi a primeira vez que Jorge Zipperer conseguiu por o seu nome na razão social da empresa. Até aí ele estava impedido de fazê-lo, por um dispositivo legal, uma fez que fora coletor federal em São Bento do Sul. Outros nomes mais ou razões sociais ainda surgiram até que, finalmente, surge o nome Móveis Cimo S/A.
COMO TUDO TERMINOU
Existe um adágio, historicamente comprovado, e que diz: “Avô rico, filho nobre, neto pobre”. Ou em outra versão: “O Avô constrói, o filho mantém, e o neto destrói”.
No caso da Móveis Cimo, o processo correu mais rápido do que o esperado, para a maioria dos herdeiros, esta caminhada parou nos filhos “nobres” e apenas em poucos casos ela prolongou-se até os netos.
Mas como foi que tudo isso aconteceu, após um sucesso retumbante no mundo todo e até por um bom espaço de tempo? Vamos ver por etapas possíveis de serem arrolados no presente momento, mas que só em futuro mais distante poderão ter sua explicação cabal, pois a História é como o vinho – quanto mais velho – mais puro.
DESESTÍMULO DOS ZIPPERER NOS MOMENTOS EM QUE O EMPREENDIMENTO EXIGIA NOVOS IMPULSOS
JORGE ZIPPERER:
Na fase construtiva, ou seja na pré-história da Móveis Cimo S/A, Jorge Zipperer foi a alma de fogo, a força inquieta que tudo agitava, a energia vital que sabia transformar cada revés em vez, cada desgraça em graça e cada contrariedade em nova força propulsora do avanço, que naquele momento a firma exigia, pois no caminho do progresso, há ocasiões em que ou se progride ou se regride, parado é que não se fica, mais depois dele, a CIMO aos poucos parou.
Jorge Zipperer foi um catalisador que centralizava as energias políticas, culturais, econômicas e religiosas com vistas a construir uma grande e profícua comunidade. Ele sabia que estava construindo um fato histórico. Tão poucos conseguem ver isso. Mas, apesar disso tudo, seu tempo foi curto e tão cedo a morte o colheu, quando ainda muito e muito lhe faltava fazer, especialmente o objetivo final de sua obra. Finis coronat opus, diziam os romanos. Isso aconteceu em 31 de janeiro de 1944, com apenas 65 anos de idade.
MARTIM ZIPPERER:
Para que haja um sólido sucesso pessoal, é necessária uma forte estrutura familiar. Não é à toa que se diz que atrás de todo grande homem, há sempre uma grande mulher, e que atrás de toda grande mulher, há sempre um grande homem. E, entre um grande homem e uma grande mulher, há sempre grandes filhos, que são o elo de ligação entre o homem e a mulher, mas que o bom mesmo é quando todos andam juntos, um ao lado do outro, e ninguém ficando para trás. Martim Zipperer foi grande. Poderia se atribuir a ele as palavras do poeta Castro Alves: “Talhado para as grandezas… Prá crescer, criar, subir”.
Martim Zipperer era amante da beleza, da arte, do progresso, da religiosidade, da cultura e de tudo que se relacionasse ao intelectual. O patrimônio cultural que havia em sua residência era simplesmente extraordinário e que, como veremos, foi destruído. Ele veio para Rio Negrinho em 1921. Veio de São Paulo onde já possuía um empreendimento de móveis à base de madeira.
Martim e seu irmão, Jorge, faziam uma dupla perfeita. Jorge era muito ativo, prático, político e muito ponderado. Martim era idealista, de grande espírito social. Seu irmão Carlos o chamava de socialista, sem dar a esse termo a conotação político partidário, que hoje geralmente tem.
Martim via o progresso como uma necessidade alicerçada no social, no bem de todos. Seu interesse pela preservação e desenvolvimento cultural foi grande. Contudo, aconteceram-lhe algumas adversidades, das quais não conseguiu superar-se e, ao contrário, parece que na tentativa de solução, afundou-se mais ainda. Talvez lhe faltasse, nessa ocasião, o irmão Jorge.
PROBLEMAS FAMILIARES
Quando ele veio de São Paulo, em 1921, com sua esposa Lina, nascida Krambeck, sua filha Wally e mais alguns verdadeiros artistas em marcenaria, instalou-se à rua Carlos Weber, depois construiu uma casa para sua filha Wally, na rua Jorge Zipperer, a última casa à direita de quem vai no sentido de encontrar a ferrovia.
Nos primeiros tempos em Rio Negrinho faleceu sua esposa, mas casou de novo com Alice Keil. Sua filha Wally casou com o dentista Afonso Klaumann, embora Martim sonhasse casá-la com um médico, e, como dote, a casa passou para o genro que a vendeu mais tarde, a seu irmão Lotário, enquanto que Martim se mudou para o Bairro Pinheirinho, junto à Imperial Estrada Dona Francisca, hoje Rua Martim Zipperer, na subida do morro, antigamente chamado de Guedersberg (Morro do Geder, na pronúncia alemã, gueder), nome este devido ao restaurante que o tal Geder possuía no sopé desse morro, no exato local onde Carlos Zipperer construiu, posteriormente, sua residência.
O genro Afonso Klaumann, abandonou seu gabinete odontológico para dedicar-se à indústria de móveis, fazendo concorrência ao próprio sogro com sua fábrica de Móveis Afonso Klaumann. Sogro e genro brigaram. Pai e filha não mais se falaram e a filha de Wally, de nome Maria Lina, foi parar na mão de Martim, que nunca mais a devolveu e ainda conseguiu pô-la contra a própria mãe, isso segundo palavras textuais da própria mãe de Maria Lina, Wally, que faleceu em 1965, em grande parte de tristeza que agravou-lhe o diabete do qual sofria.
No bairro Pinheirinho, Martim procurava sossego, mas que ao mesmo tempo, o fazia sofrer de solidão. Todo bávaro sofre com ela e dela procura desfazer-se, às vezes, com falsa alegria, tal qual o carioca facilmente o faz.
Martim sentia o fato de não ter filho homem, que sonhava fosse médico em Rio Negrinho. Esperava que a filha tivesse filhos, mas nasceu primeiro uma filha e pensou em apossar-se dela, e o fez, a fim de casá-la com um médico, o que conseguiu mas foram morar em Curitiba. E ele novamente ficou só, com sua segunda esposa.
O SUICÍDIO DE ANTÔNIO ZIPPERER
Outro fato que marcou profundamente os irmãos Jorge e Martim Zipperer, foi o suicídio de seu primo Antônio Zipperer, causado por desavenças em negócios, envolvendo a firma, os irmãos e os parentes a ela associados, e nos quais, Antônio teria levado a pior e foi o que o levou a tirar sua própria vida, deixando sua esposa e seus filhos em triste situação. Há quem até afirme que não foi suicídio, mas assassinato, o que nunca se pode provar.
Jorge em seus últimos tempos de vida, em avançado grau de demência, falava sozinho de seu finado primo. Martim nunca mais comentou sobre o fato, mas certamente muito sentiu, pois segundo herdeiros de Antônio, quando seu pai se dirigia a São Bento do Sul, foi alcançado por Jorge, que lhe trazia o dinheiro do prejuízo em disputa, mas apareceu lá também o Martim, que tomou o dinheiro das mãos de Jorge e com ele voltou a Rio Negrinho, repondo-o nos cofres da Empresa. Poucos dias depois aconteceu o suicídio ocorrido em 14 de janeiro de 1940, com um tiro na cabeça.
A MORTE DE JORGE ZIPPERER
Jorge era daqueles que jamais sabia dizer não a qualquer oportunidade que lhe aparecesse. Dizem que certo dia perguntou-se a Getúlio Vargas, aquele que depois de D. Pedro II, por mais tempo governou o Brasil, a que poderia se atribuir o seu sucesso e ele teria respondido: Ao fato de nunca ter dito não a uma oportunidade. Jorge era assim. Sempre encontrava uma palavra e um jeito, até que esbarrou na morte do primo. Morte não tem volta e não tem jeito. Para ela existe apenas a compreensão, que produz sempre uma certa deformação, ainda mais quando há sentimento de culpa no envolvimento do caso. Jorge faleceu quatro anos depois do suicídio do seu primo Antônio e até no mesmo mês de janeiro, ou seja exatamente em 31/01/1944.
Sua morte foi um baque em Martim. Não mais possuía quem o secundasse, especialmente naquilo que ele mais gostava: O progresso econômico, cultural e social. Faltava-lhe, agora, a alma do empreendimento. A criatividade pragmática do irmão mais velho. Era, talvez, esse o início do fim, daquilo que Jorge e seu amigo de infância Willy Jung, haviam começado com tanta disposição e, embora, por força do impulso inicial e das circunstâncias nacionais e internacionais, ainda avançasse mais alguns tempos.
A BRIGA COM O PADRE
O Padre Celso Michels foi o primeiro vigário de Rio Negrinho. Iniciou suas atividades no dia 1º de novembro de 1948 e entregou seu cargo no dia 20 de outubro de 1954. Era ele o que alguns chamavam de “Padre Tropeiro”. Era valente, corajoso, enfrentador e até mesmo nada escrupuloso na prática de muitos de seus atos. Geralmente usava botas e lenço ao pescoço à moda gaúcha, apesar da batina que nunca largava. Era este o símbolo da grande autoridade de padre. Gostava de caçadas e segundo consta, deixou um filho em Rio Negrinho.
O Padre Celso conseguiu fazer com uma população de aproximadamente 5.000 habitantes, que Rio Negrinho então possuía, aquilo que com várias dezenas de milhar de habitantes de hoje não se consegue fazer: Construiu em apenas seis anos, a Paróquia de Santo Antônio, o Colégio São José e o Seminário São José.
Para conseguir construir tudo isso, ninguém lhe escapou. Todos trabalhavam. Crianças conseguiram telhas, pedindo esmolas nos dois trens de passageiros que diariamente passavam por Rio Negrinho. Os operários da Móveis Cimo cobriram a igreja. Os colonos com suas carroças transportaram essas telhas. Todo madeirame foi doado por colonos e serrado pela Móveis Cimo e algumas outras serrarias da redondeza. Quase ninguém cobrou e todos colaboraram, liderados pelo Padre Celso Michels, que era realmente um líder.
Mas, com tanto trabalhar, com tanto liderar, os atritos também foram acontecendo e a vida espiritual do padre foi relaxando. Nem sempre esses conflitos conseguem ser bem administrados por aqueles que neles se estão envolvidos. E foi o que aconteceu: Padre Celso Michels e Martim Zipperer se desentenderam e a briga foi grande. Foi de dois gigantes. Um pensava que poderia dominar pelo mundo econômico que administrava e o outro apoiava-se nos argumentos da ortodoxia católica, divulgada no púlpito que usava e sabia usar violentamente.
É claro que o Padre levou a melhor. Ele tinha boa oratória, possuía um púlpito à sua disposição e a textura social da época o favorecia, embora os operários precisassem também do emprego na Cimo, mas a Cimo deles também precisava.
APOIO À OUTRAS RELIGIÕES
Martim Zipperer resolveu apelar para a retaliação. Apoiou outras religiões e chegou a construir ou ajudar decisivamente na edificação de seus templos. Resolveu dividir para dominar ou, pelo menos, enfraquecer. Foi o que mais ainda embraveceu o Padre e Martim foi chamado de diabo e sujeito de atitudes diabólicas, isso por escrito em documentos oficiais, que as enchentes destruíram ou se aproveitou alguém das enchentes para destruir estas atas. Creio ser esta última a versão mais apropriada.
Na verdade rixa entre os dois já existia há mais tempo. Pois, segundo um adágio popular, “não pode haver dois sóis no mesmo céu”. Foi assim que finalmente o barril de pólvora incendiou-se só por causa da atual Rua Luiz Scholz, que depois, só bem mais tarde, acabou por ser construída. Martim Zipperer a queria em linha totalmente reta e larga, uma verdadeira avenida, do ponto onde hoje ela desemboca na Rua Pedro Simões de Oliveira até a Rua D. Pio de Freitas junto à Ponte do Imigrante. A seguir-se essa ideia de Martim, essa rua ocuparia a parte central do atual Colégio São José, mas era ali, exatamente ali, que o Padre Celso queria construir, como de fato construiu, o Educandário Santa Terezinha, atual Colégio Cenecista São José.
O fim disso tudo acabou por prejudicar os dois. O retalhamento que Martim pretendia, prejudicou, mas não funcionou segundo seu intento, e acabou por não mais ser ele, tão bem visto pela população, uma vez que a maioria dos habitantes de Rio Negrinho eram católicos e agora ele se saiu como inimigo deles e muitos esperaram que sobre ele caísse a ira de Deus.
O PADRE BRIGOU COM O BISPO
O Padre Celso Michels teve atritos com o bispo, com seus superiores da congregação e pediu seu desligamento da ordem secularizando-se e, finalmente, abandonou o sacerdócio, o que equivalia, naquele tempo, à pena de excomunhão, ou seja, expulsão da igreja católica. Morreu como fazendeiro no norte do Estado do Paraná. Segundo alguns, fazendeiro é o que ele sempre deveria ter sido e não padre.
ISOLAMENTO DE MARTIM ZIPPERER NA CIMO
Martim isolou-se e foi isolado. Após a briga com o Padre, muitos chegaram a acreditar que, tal como a benção do padre que pega no bom sentido, sua maldição igualmente causa um efeito nefasto. E, quer queira, quer não, todo pensamento é um gerador de força mental positiva ou negativa.
Assim, os que acreditaram na maldição do padre, especialmente após a Cimo não dar feriado no dia de Sexta Feira Santa, que ainda não era feriado nacional, mas respeitado religiosamente mesmo pelas empresas, e o empregado que acionou a sirene, o que o titular da tarefa não queria fazer e por isso faltou ao trabalho, o fez de propósito demoradamente ao ver que os empregados não chegavam ao trabalho negando-se a trabalhar naquele dia, caiu ele, poucos dias após, no tanque de água fervendo, onde as toras de imbuia eram cozidas antes de irem para a laminadora, viram nisso, um nítido castigo de Deus.
Martim sofreu um isolamento gradual também por parte do próprio pessoal da Móveis Cimo. Uns alegavam sua velhice e até de que já não mais estaria tão bem familiarizado com as novas técnicas administrativas. Outros se escusavam dizendo que o problema era estar a matriz da firma em Curitiba e que o pessoal de lá, cada vez mais, monopolizava a administração e que Rio Negrinho passou apenas a ser uma fábrica sem autonomia própria e que o pessoal de Curitiba pouco ligava para os problemas de Rio Negrinho.
Martim já quase não mandava mais em Rio Negrinho. Até seus amigos rareavam. Quase que só se o via sair de casa para a fábrica, cada dia um pouco mais cedo. Sempre em seu único automóvel que durante toda sua vida possuiu. Até estas idas a fábrica também diminuíam cada vez mais, até que um dia, o porteiro novo não o conheceu e quis identificá-lo e saber com quem e o que ia tratar, e por isso, o rapaz quase levou uma bengalada na cabeça.
Antes de morrer, Martim repetiu para várias pessoas de seu círculo de amigos mais próximos: “A Cimo não irá por mais de seis anos após a minha morte”. E de fato assim o foi. Sua esposa Alice faleceu tempos após, no asilo de velhos em Pirabeiraba, Joinville, após ter queimado quase todo o acervo cultural de seu finado marido.
CARLOS ZIPPERER
Dos irmãos Zipperer com voz ativa, sobrou em Rio Negrinho, Carlos, o irmão de Jorge e Martim. Seu filho, em Curitiba, era o Diretor Presidente. Rio Negrinho produzia, Curitiba administrava. Os operários de Rio Negrinho, um tanto revoltados, diziam que a administração era em Curitiba, para que os administradores de lá ficassem o mais longe possível dos problemas e assim melhor se pudessem entreter, de cabeça fria, com os reais problemas da situação, isto é, os seus próprios prazeres da vida.
Carlos era amigo de todos. Foi juiz no fórum de São Bento do Sul e comerciante. Bom músico, integrante muito ativo da Banda Treml de São Bento do Sul, fundada por seu irmão Jorge, em 1903. Jamais, como bom e alegre bávaro, deixava de beber a sua cerveja. Era bom trabalhador mas não ia muito além disso. Já muito idoso desligou-se da Empresa. Desta família ficou só seu filho na qualidade de Diretor Presidente em Curitiba. A Cimo de Rio Negrinho ficou, na prática, sem voz ativa. Era um corpo vivendo uma realidade e a cabeça, bem outra. Isso segundo vários intérpretes da situação.
O COMÉRCIO DO PRODUTO – OS MÓVEIS
Dizem que bons administradores crescem na crise, se consolidam nos períodos de bons negócios e se preparam para novos crescimentos em novos períodos de crise.
Foi assim, inicialmente com a empresa que deu origem a Móveis Cimo S/A. Ela venceu todas as crises daquele tempo. Superou-se na Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918. Perpassou ilesa à terrível crise mundial, que teve seu auge em 1929. Saiu-se muito bem na Revolução de 1930, em que líderes desta empresa tiveram a infelicidade de estar do lado que perdeu. Ultrapassou vitoriosa os horríveis anos da Segunda Guerra Mundial de 1939 a 1945, com suas nefastas consequências de pré e pós guerra. Sobressaiu-se de modo crescente de muitos desastres como incêndios, explosão de caldeira, ausência, quase total, de moeda circulante, azares em negócios, mudanças – e isso naqueles tempos de antigamente – de vários empreendimentos industriais. Tudo isso, e muito mais foi vencido.
FALÊNCIA NO AUGE DO DESENVOLVIMENTO
O curioso é que a Móveis Cimo foi morrer exatamente num período em que na região do planalto nordeste de Santa Catarina, e mesmo de outras regiões do País, o surgimento de novas indústrias moveleiras pipocou a área do mobiliário nacional qual samambaia em roça de milho queimada.
Dentro do parque fabril da Cimo de Rio Negrinho, já nos seus últimos tempos, funcionava a Escola Técnica Móveis Cimo. Numa das salas de aula havia nas paredes, quase junto ao teto, talvez ali para que ninguém os pegasse, bem emoldurados, uma série de diplomas com suas respectivas medalhas de ouro outorgadas em Madri, Londres, Paris etc. Eram o atestado do valor, da qualidade, da estética e do prestígio dos móveis que portavam a etiqueta Cimo.
MÓVEIS CIMO – A MAIOR EMPREGADORA DA HISTÓRIA
No auge de seu poderio em todas suas conexões em Rio Negrinho, Curitiba, São Paulo, Joinville e Capital Federal do Brasil no Rio de Janeiro, esta organização oferecia mais de 5.000 empregos diretos. Ela era o maior empreendimento moveleiro da América do Sul e um dos maiores do mundo. O comércio mundial de móveis não podia prescindir da Móveis Cimo S/A. Ela só não deu o salto final, o do domínio mundial, por já ter passado a fase do avô rico para a do filho nobre, dentro do conceito do velho aforismo que diz: Avô rico, filho nobre e neto pobre, ou então, mais simples: O avô constrói, o filho mantém e o neto destrói. Não é este o estigma obrigatório nas organizações, mas bastante geral nos empreendimentos econômicos.
POSSÍVEL MOTIVO DA EXTINÇÃO DA CIMO
Uma das causas da morte da Móveis Cimo foi terem acreditado, excessivamente, na marca Cimo e a terem, em virtude disso, mantido estática sua produção, enquanto que o mundo despontava para uma nova fase de produtos moveleiros. A Cimo, com isso, parou no tempo e não adentrou na fase dos torneados, permanecendo nos móveis de linha reta ou apenas nos de suave plasticidade, conseguida através dos laminados, dos quais se conseguia a tábua compensada de cujos móveis a poltrona de cinema era um bom exemplo.
Sua grande especialidade, as poltronas de cinema, com a chegada da televisão, também entrou em colapso. Tentou entrar na jogada das carteiras universitárias, apostando na grande expansão do ensino superior no Brasil, mas esqueceram que as universidades têm outra maneira de ser, de pesquisar e de realizar. Diriam os ingleses: têm outro feeling. As universidades não se tornaram fregueses fiéis ao mesmo produtor. Perderam, os administradores da Cimo, inclusive, o embalo da construção de Brasília que a tantos moveleiros e madeireiros enriqueceu.
OS FILHOS “NOBRES”
Aquilo que mais pode atrapalhar uma organização é a existência, dentro dela, de uma falsa elite de administradores, que só são bons em períodos de vacas gordas, mas o bom administrador mostra que ele é também capaz em períodos de vacas magras. Principalmente nesse período é que ele mostra quem ele é.
Certo dia, o líder de um partido político de oposição que foi perseguido, mal visto e mal falado, terrivelmente marginalizado e que acabou, ao longo do tempo, por conquistar importante posição nas alturas da grande administração, disse: “agora começa o perigo de afundar a minha sigla, pois até este momento só autênticos correligionários é que nela militaram, mas daqui para frente, os interesseiros, os quinta-colunas e toda sorte de puxa sacos é que nela querem cerrar fileira, para colher o que não plantaram. É sempre quando acaba o sofrer, é que começam a chegar para a festa os que nada por ela fizeram. É a busca do prazer sem terem tido a coragem de lutar e sempre são estes, os primeiros a deixar o barco, quando algo nele não vai bem, ou em algum outro lugar tudo vai melhor”.
Havia em Rio Negrinho, pessoas que diziam: Ser gerente da Móveis Cimo, é receber inclinações na rua e realmente, por um tempo, assim quase o era. E houve até quem deles se dissesse tão inteligente e capaz de administrar qualquer organização, pois segundo ele, administrar é apenas uma questão de dom pessoal, é uma genialidade não de qualquer um, mas daqueles que nascidos para tal, o aprendem facilmente. Era a mentalidade “sangue azul”, a do filho “nobre”.
Certo dia, quando um fulano ao ser admitido num clube, teve seu passado examinado, como era de praxe, e houve quem com isso se enaltecesse dizendo: “é um absurdo, pois o fulano ocupa um cargo de responsabilidade na Cimo”. Diante de tal argumento dogmático, todos se calaram. Só que tempos depois, o dito fulano teve que dar no pé e deixou vários a ver navios. É que a nobreza só funciona se passada na provação do embate ferrenho, que se baseia no plantar, no lutar para chegar à vitória por mérito próprio e não como o cipó, que só sobe enrodilhado no tronco já feito, mas que tomba quando a árvore cai.
E assim aconteceu com a Cimo, que era um amplo tronco e quando caiu, nenhum cipó permaneceu em pé. Caíram todos e não mais se levantaram. Martim Zipperer teve razão, foi pouco depois dele.
CONTRATAÇÃO IRRACIONAL DE TÉCNICOS
Chegou uma época em que era chique fazer cursinhos de administração. Isso dava significativo status social dentro da empresa. Veio, em consequência, também a reformulação interna. Se dizia que era necessário mais sangue novo, mais oxigenação. Quando então, vinha alguém de fora e se dizia entendido em alguma coisa, ele virava matéria prima de primeira qualidade e quanto mais de fora, tanto melhor. Os paulistas, os curitibanos, alemães, espanhóis eram o máximo em Rio Negrinho. Os de cursos superiores, reinavam soberanos.
SUBSTITUIÇÃO DO PESSOAL INTERNO
Veio depois, a troca do pessoal interno. Quem cuidou de toda parte mecânica da empresa, por anos a fio, e o fazia com todo amor, foi simplesmente despedido ou relegado a um segundo plano. No lugar dele foi posto um diplomado e rodeado de uma equipe de assessores que reinava, mas que pouco ou quase nada conseguiu fazer.
Os antigos entendidos em móveis saíram e começaram seus próprios empreendimentos fabris ou foram trabalhar naqueles que seus antigos colegas já haviam fundado. Alguns desses, cresceram e se tornaram grandes, mas outros também não prosperaram por falta de administração correta. Só saber fazer também não é suficiente. Mas foram a semente de muitos pequenos concorrentes que, no conjunto, atrapalharam, e muito.
Um antigo operário, quase chorando, disse certo dia: “Eu amava isso aí. Domingos eu ia à missa, voltava para casa, trocava a roupa e ia limpar a caldeira para segunda cedo, as cinco horas, começar o trabalho. Nunca cobrei por isso e agora chegam os doutorzinhos, que nada entendem e nada amam e mandam os outros embora?”.
Um professor, conversando com seus amigos, perguntou: “O que se passa com a Móveis Cimo? Os meus piores alunos e ex-alunos ali trabalham. Onde estão os antigos respeitosos operários que ali trabalhavam e que lá se comportavam como se aquilo fosse seu?”
DESONESTIDADE
Durante muito tempo Rio Negrinho gravitava em torno da Móveis Cimo e a sua morte vinha acontecendo de fora para dentro, aos poucos. Na Capital Federal – Rio de Janeiro, em São Paulo e Joinville já não mais existia uma célula sequer daquilo que ali foi a Móveis Cimo, mas que em Rio Negrinho ainda fazia o povo inclinar-se ante seus gerentes, ou quase isso. O povo miúdo percebia que algo não andava bem. Rio Negrinho tinha medo. E se a Cimo morrer? O que será da nossa cidade? E a pergunta corria insistente e preocupante.
Era exatamente o dia 07 de novembro de 1970. Uma festinha de aniversário entre amigos. A pergunta voltou à tona: E se a Cimo morrer? Um dos grandes da Cimo, ali presente, disse orgulhoso e convicto, fazendo a todos se calarem admirados e até mesmo se sentirem envergonhados por fazerem uma pergunta tão boba:
– Vocês, metidos a ser a elite pensante da cidade, não tem mesmo mais o que fazer? Por que se preocupar com coisas tão esdrúxulas, tão impossíveis de acontecer? Vejam bem: A Cimo tem madeira, in natura, comprada e paga, para nada menos de cinquenta anos de produção e capital de giro suficiente para durante cinco anos não vender absolutamente nada, e assim mesmo continuar pagando normalmente tudo o que ela deve pagar. Ela não tem dívidas de espécie alguma. Ora, uma empresa dessas não pode morrer. Jamais vai morrer e, além do mais, ela é extremamente bem administrada.
Após essa verdadeira charla, todos ali presentes, respiraram aliviados sentindo-se totalmente seguros e admirados diante de tão profunda sabedoria administrativa. Especialmente Rio Negrinho, achava que realmente estava seguro, mas esqueceram contudo, que nem Deus, diziam, podia com o Titanic, mas na primeira viagem ele afundou.
O SUMIÇO DO CAPITAL
Fica desse modo bem evidente que esse enorme capital não desapareceu por acaso. Ele foi desaparecido, é assim que muitos comentavam na época. Muitos pobres operários, ou seus herdeiros, guardam suas ações, que compraram com suas escassas economias, com amor e orgulho, na esperança de que alguém as resgate, mas é o que não acontece. Outros, ainda esperançosos, aguardam receber o seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS. Esperança vã num governo que não sabe defender seus honestos cidadãos.
O GRUPO LUTFALA
Um dos problemas da Móveis Cimo, ao longo de todo seu desenvolvimento, e principalmente, nos últimos tempos, foi a grande emissão de ações e talvez até o pouco controle destas ações ou seja, um não inteiramente racional serviço de acompanhamento da circulação dessas ações. Foi isso que tornou a empresa relativamente frágil em sua responsabilidade patrimonial. Um exemplo do que se diz é que Carlos Zipperer, irmão de Jorge e de Martim, foi, por tempos, o maior acionista, mas possuía apenas 5% das ações. Havia altos funcionários da Empresa que nada queriam saber de ações da Cimo. É sinal de que nelas não acreditavam.
Foi do que se aproveitou o grupo Lutfala de São Paulo, a jogar-se na aventura de conseguir, açambarcar o grande acervo empresarial da Móveis Cimo. Comprou-a com os próprios recursos. Trabalhou com ela por um tempo e depois a dilapidou por completo.
Sobraram apenas dívidas e uma chaminé, para gritar aos céus a verdade de que foi dela que nasceu a cidade de Rio Negrinho e de que são filhas dela, muitas empresas moveleiras e mesmo outras que, na redondeza existem. Quem morre, não morre, mas entra na História. Deixa sua vida na vida que fica, sob a forma de mais vida e vida mais abundante.
O QUE ELA FABRICAVA
- Começou com moderna serraria, exportando madeira serrada.
- Acrescentou a essa atividade a de fabricar caixas para acondicionar frutas, que eram exportadas para a Argentina.
- Passou depois a mais outra atividade, a de fabricar cadeiras que eram vendidas ao povo da região e mesmo a outros lugares do Brasil.
- Faltando casas em Rio Negrinho, a empresa resolveu responder, positivamente, a mais esta necessidade, e passou produzir casas de madeira pré-fabricadas, da melhor e mais bela qualidade.
- Veio, depois, o período áureo da construção de cinemas no Brasil. Cada cidade era olhada e julgada pelos cinemas que possuía. Começaram a fabricar modernas e luxuosas poltronas de cinema. Foi o grande sucesso.
- Anexaram, a isso tudo, a de produzir escritórios e dormitórios, e outros móveis, sempre da melhor qualidade.
- Não havia, praticamente, o que, na linha de móveis e de madeiras de modo geral, não fizessem. É claro que dependia do comércio e da quantia do pedido.
OS DIVERSOS NOMES DA EMPRESA AO LONGO DA HISTÓRIA
Esta empresa até sua paralisação total, passou por várias denominações. São elas:
- De 1912 a 1919 – Willy Jung e Cia.
- De 1919 a 1924 – André Ehrl e Cia.
- De 1924 a 1925 – Nicolau Jacob e Cia.
- De 1925 a 1930 – Jorge Zipperer e Cia.
- De 1930 a 1932 – Indústrias Reunidas de Madeira
- De 1932 a 1944 – Martim Zipperer e Cia.
- De 1944 a 1982 – Cia. Industrial de Móveis ou MÓVEIS CIMO
BENEFÍCIOS OU MALEFÍCIOS PARA A CIDADE DE RIO NEGRINHO
É impossível construir, sem destruir. É impossível fazer uma grande obra sem, em seu decurso, cometer alguns erros. O ser humano nasceu para ser humilde, reconhecendo seus erros e, a partir deles, construir sua própria felicidade que se alberga no bem estar de todos, na comunidade.
BENEFÍCIOS
São inúmeros os benefícios que a Cimo trouxe a Rio Negrinho, Santa Catarina e até ao Brasil. Podemos citar alguns:
- Criou oportunidades para que surgisse a cidade de Rio Negrinho;
- Deu a esta cidade o progresso cultural que foi grande e há necessidade de uma busca histórica, para relatar isso por completo em todos os seus benefícios;
- Desenvolveu o Ensino Médio que, em Rio Negrinho, foi primeiro a nível regional;
- Pioneirismo nacional, a partir de 1930, com reflorestamento de espécimes da mata da araucária;
- Foi a semente de muitas novas indústrias na região;
- A introdução de técnicas novas na utilização da madeira, como a laminação e a consequente fabricação de produtos de madeira compensada;
- Criou líderes locais que, se não tiveram total continuidade, deixaram assim mesmo, suas benesses na arte, nas escolas, nas igrejas, no seminário, no hospital de Rio Negrinho e na elevação do nível geral de vida municipal;
- Criou no povo de Rio Negrinho o amor e o orgulho necessários à consolidação social de uma comunidade.
MALEFÍCIOS
Nada ou quase nada de malefícios há para que possam ser citados. São quase tudo só acusações gratuitas que existem, como:
- Teriam impedido que outras indústrias em Rio Negrinho se instalassem e que, no entanto, apareceram entre as próprias famílias parentes e amigas dos líderes da Cimo;
- Teriam causado o desmatamento, o que também não resiste a uma acurada crítica histórica, pois era a época e, se não um, os outros o teriam feito e talvez com bem menos critérios e sem as iniciativas preservacionistas e de reflorestamento que a Cimo teve, especialmente na pessoa de Martim Zipperer;
- Teriam inibido o desenvolvimento cultural; mas como, se Rio Negrinho foi a primeira na região a ter emissora de rádio, cinema, Ensino Médio, futebol e tantas outras coisas mais?
- Poluição do Rio Negrinho, mas Martim Zipperer por várias vezes ergueu sua voz, por fala e por escrito, contra esse perigo e alertou pedindo medidas para que isso não acontecesse.
NOMES IMPORTANTES PARA A HISTÓRIA
Ao terminar esse relato, essa parte da história da Móveis Cimo, deixa-se aqui ainda, alguns dos nomes notáveis da época: Willy Jung, Jorge Zipperer, Martim Zipperer, Eugênio Dettmer… E muitos outros que futuramente ainda deverão ser lembrados e melhor estudados.